Montes Claros vive uma situação crítica.
Apesar de tudo, tenho o prazer de vivenciar esse momento tão importante para a
construção da minha juventude e para o futuro da minha cidade, e um dia ter o
orgulho de contar para meus filhos. A população do Brasil, além de crescer,
está se conscientizando também, e eu pareço não ser uma exceção.
O que eu aprendi sobre revoltas civis e
outros movimentos, até então, foi através de estudos. E os que aconteceram nos
últimos 15 anos eu não estava presente - nem que seja para saber, sem
participar - porque não tinha idade e nem interesse suficiente. Porém, hoje
estão acontecendo novos movimentos que eu tenho a oportunidade de interagir.
Por exemplo, daqui há muito tempo eu vou lembrar que o Egito e a Líbia
conseguiram suas independências numa época que eu pude ver. Da mesma forma, o
movimento para a retirada de um prefeito “peculiar” ficará registrado na
história de Montes Claros.
Pois bem, Montes Claros é a maior cidade do
Norte de Minas e sua economia abrange não só essa região, mas também, o sul da
Bahia. É uma cidade relativamente grande e pólo de estudantes e trabalhadores
de inúmeras cidades da redondeza. Seu fluxo econômico e populacional foi
crescendo de tal forma que já se previa um estouro de indignação devido à falta
de estrutura para suportar esse crescimento e o desinteresse político de oferecer
suporte.
Parece que o estouro aconteceu! Este começou
a se intensificar com a reentrada do prefeito Tadeu Leite em 2009. Parece que
ele se voltou para projetos menos essenciais de grande marketing e repercussão
na mídia, que fechou os olhos da parcela menos esclarecida da população. Diante
disso, alguns “gatos pingados” resolveram agir e não aceitar essa cortina que
tampa as mazelas da sociedade e dispuseram a mostrar, para todos, o verdadeiro
cenário da cidade.
Estamos totalmente sem infra-estrutura para
suportar a expectativa de um milhão de habitantes em 2020. Hoje, somos 361 mil
cidadãos numa cidade que não nos suporta, que o trânsito é mais caótico que as
grandes capitais, pois além de ser superlotado, ainda há buracos enormes, falta
de espaço e de sinalizações horizontais. Já imaginou Montes Claros daqui dez
anos?
A saúde está precária, falha e demora nos
atendimentos, e a pressão foi tão grande que o próprio secretário de saúde
“pediu arrego”. Aqui não tem incentivo à cultura, seus maiores núcleos - Casa
da Juventude e Centro Cultural – se não estão fechados, estão fragilizados. E o
esporte vai bem, muito bem com o vôlei. Mas e o futebol? E a natação? E o
basquete, handebol, esqueitismo? O Mocão (estágio de futebol) é projeto de
muitos anos atrás e até hoje não foi posto em prática. O zoológico parece não
existir. Enfim, esses são uns dos problemas que eu sei que tem, mas muitas
outras pessoas sabem de problemas que eu nem imagino.
O movimento que resolveu expor esses
problemas e exigir uma nova Montes Claros foi iniciado com a caminhada, levando
o caixão no “Enterro da Ética”, até se concretizar no chamado Fora Tadeu, que
se expandiu em âmbito nacional. Já conseguiu ser o quarto assunto mais postado
no Twitter e ainda levar ao conhecimento de programas como o CQC, da Band. Teve
até censura da TV local, perseguições e ameaças a certos participantes.
O objetivo do movimento não é exigir o
impossível de governantes, pois entendemos que nossa região é precária, seca,
pobre, e com centenas de dificuldades para se desenvolver, mas a gente não quer
só comida, a gente quer comida, diversão e arte. Será tão difícil ser menos
negligente e distribuir as verbas de forma justa e honesta? Ah, deve ser
difícil sim, para nosso prefeito é muito mais fácil gastar dinheiro público com
candidatura e promoção do seu filho Tadeuzinho, ou simplesmente colocá-lo no
bolso. Bom, é o que dizem e evidências comprovam! Logo, percebemos que expor os
problemas e querer soluções não é só exigir uma melhor administração da corja
que está na prefeitura, mas sim tirar o maior articulador de todos, daí o
desejo de Fora Tadeu.
Dizem que é um movimento pacífico e
apartidário. Pacífico é inquestionável que não seja, todos viram que nenhum ato
foi agressivo e que a polícia não precisou interferir em nada. Apartidário, eu
seria muito romântico se dissesse que não há opositores infiltrados querendo
aproveitar da insatisfação das pessoas. Porém, um movimento apartidário, do
povo, não impede que pessoas partidárias participem. Inclusive, um dos fatores
que enfraquece o movimento é a falta de um líder, um rosto, ou até um grupo com
idéias formuladas e propostas projetadas/escritas do que o movimento realmente
propõe, uma ata com reinvidicações, tudo isso para fazer jus ao substantivo
“apartidário”. Pois, o que se vê são pessoas independentes, fragmentadas, cada
uma prejudicada por certo problema da cidade, que se juntaram para pedir
melhorias e saída do prefeito, apenas isso.
Não sou um dos organizadores do levante, mas
sou um cidadão indignado com a situação da nossa cidade. Não tenho conhecimento
de como será, se realmente conseguiremos o impeachment e também sei que ninguém
consegue isso apenas gritando nas ruas, sem se politizar, sem assembléia,
diplomacia e, principalmente, sem o apoio dos vereadores que, até então, estão
ignorando tudo que está acontecendo.
Entretanto, por mais que eu não saiba de todo
o processo, não podia ficar sentado em casa esperando outras pessoas dizerem o
que eu também quero dizer, desiludido, só porque talvez seja difícil. A
Revolução Russa era impossível, não era? Será que as milhões de pessoas
protestando na praça Tahrir, no Egito, eram totalmente politizadas? O que eu
quero dizer é que você não precisa conceber todo o movimento para fazer parte
dele, embora seja necessário que alguém conceba e faça as propostas.
Enfim, eu participo do Fora Tadeu sim, e não
venha me dizer que ele está rindo de nós, porque ele pode rir três vezes do
lado de lá, que gritaremos cinco vezes do lado de cá: Fora Tadeu! Não quero
saber se conseguiremos impeachment ou se nada vai mudar até o fim do mandato,
mas já é honroso saber que eu tentei, que eu pelo menos fragilizei a imagem de
um corrupto e que eu não fico em frente da televisão vendo as notícias
subversivas ou em frente de um computador lendo um texto, como este, sem ir à
rua lutar.
“Fora Tadeu”, venha conosco!