29 de maio de 2016

As Facetas da Milícia



Em um país com as instituições policiais tão desvalorizadas, não tem como deixar de atribuir isso a um histórico sujo de muitos que juraram defender a sociedade. A milícia é um dos exemplos escabrosos de ações de policiais que, na verdade, são bandidos, mas acabam queimando a imagem da polícia por praticarem seus crimes vestidos de farda e abusando da sua função pública.
Esse termo se refere a uma organização de pessoas armadas que se aproveitam da falta do Estado em certa localidade para dominá-la, promovendo a segurança por meio do que os seus integrantes chamam de justiça, e cobrando da população por isso. A violência é o principal método para assumir o controle. O problema é que quase sempre essas pessoas são os próprios representantes do Estado, isto é, a polícia, pois é corrupta, mal remunerada e pouco treinada, além de contar com a falta de fiscalização sobre suas ações, pois os interesses espúrios e politiqueiros de quem a comanda acabam potencializando a impunidade.
Em tese, o que deveria ser segurança pública, financiada pelos impostos do cidadão, se transforma em organização criminosa que pratica corrupção passiva, extorsão, homicídio, e outros crimes. Em troca, impede assaltos, dão apoio social (remédio, TV a cabo, internet, iluminação pública grátis), benefícios que muitos que criticam condutas erradas da polícia não se importam com a fonte ilícita a qual são gerados, desde que sejam beneficiados pelo sistema. Além disso, pode até haver uma ilusão de melhora de vida para aqueles que moram no lugar e trabalham fora, mas o esquema quebra a economia local, pois os comerciantes trabalham para a subsistência e para enriquecer os milicianos.
Outra questão é que geralmente esses grupos são inimigos dos traficantes, pois, em comunidades tomadas por estes, percebe-se que eles acabam sendo os milicianos. As características são as mesmas: na falta do Estado, pessoas armadas tomam o controle e fornecem suprimentos aos moradores, que passam a acobertá-los e contribuir indiretamente com a criminalidade. E ai está o lado indignante dessa “modalidade” de milícia: o apoio da população local. Não é incomum ver moradores criticando a polícia quando há tiroteios em favelas, mesmo em se tratando de uma guerra, com duas frentes. Os traficantes não são vistos pela lei como tal porque se enquadram no crime que representa sua atividade principal, o tráfico de drogas, e não são tão recriminados pela população porque são natural dali e tiveram condições sociais degradantes, em que pese, para os moradores, as condições de trabalho do policial não serem justificativa para ele se tornar um miliciano.
Cabe dizer que milícia não se confunde com grupo de extermínio, pois este consiste em mais de duas pessoas se organizarem com a finalidade de cometer homicídios. Além disso, não exigem vantagem econômica, pois se dizem justiceiros, apesar de, na verdade, serem sanguinários que até matam gente inocente para se livrarem de testemunhas ou ferirem emocionalmente os bandidos.
Enfim, mostrei um pouco o conceito de milícia, mas a intenção principal foi apresentar essas vertentes que me surgem quando analiso a questão. Não se deve esquecer que qualquer forma de usurpação do poder do Estado por meio de organizações paramilitares é uma afronta à sociedade como um todo, e não apenas aos envolvidos nos conflitos. Que isso sirva para as pessoas que veladamente justificam o apoio dado pelos traficantes aos moradores como uma forma aceitável de suprir a falta do Estado, porque é apenas mais um tipo de compra de voto.

 

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http://www.culturamix.com/cultura/curiosidades/as-milicias-no-brasil/
http://super.abril.com.br/comportamento/freixo-o-verdadeiro-fraga