Que legitimidade um agente do estado tem ao
tentar fazer justiça sem estar amparado pela legislação, honra e ética?
Nenhuma. É o que mais se vê. Em certos cenários, você estuda muito para atingir
um patamar que lhe permita promover justiça, mas vislumbra duas alternativas: a
falta de aparato para combater o crime corretamente; ou a inatuação, enquanto
assiste os classificados como guerreiros atropelando a moral em prol de uma
pseudo ordem.
Particularmente, sou fã do Justiceiro e do
que ele representa nas histórias de heróis. Paradoxalmente, também sou fã do
Batman, que, ao contrário do primeiro, não acredita no derramamento de sangue
como meio para a justiça. Descobri que gosto dos dois porque talvez eu seja
indiferente aos meios utilizados pelos personagens. Preso pela moral e honra, e
isso ambos tem, apesar dos métodos variáveis de cada um.
Contudo, isso é na ficção. Na vida real, a
maioria dos métodos alternativos incorre em uma cascata de acontecimentos que
perturbam a ordem social, gerando, inclusive, guerra civil. Exemplo disso é a
situação da segurança pública no Rio de Janeiro e Belém. Concordo que a legislação
brasileira é frágil, a Justiça é lenta e falha, mas parte da ineficácia da
segurança pública está em como os policiais enxergam a polícia.
Transferem para a Justiça a responsabilidade de
indivíduos perigosos estarem livres, ignorando a falha na instrução criminal
para produção de provas robustas que é o que os manteriam presos. É a máxima “A
polícia prende e a Justiça solta”. Mas em grande parte dos lugares a delegacia
de polícia se resume apenas a flagrantes e registro de ocorrências. O resultado disso é que grandes criminosos,
como chefes de organizações criminosas, assaltantes de bancos, dentre outros, são
detidos em um flagrante por porte ilegal de arma, por exemplo.
A partir disso, para suprir todo esse sistema
falho, ignorando, principalmente, a necessidade de um novo modelo de polícia, o
investimento em tecnologia, a utilização da Inteligência Policial, e o foco na
produção de provas, os agentes da segurança deixam de ser policias e tornam-se
soldados. Porém, ao contrário do Justiceiro e do mundo imaginário, os
interesses pessoais se exaltam ao se verem apoiados no manto das instituições
armadas, revelando grupos de extermínio, homicidas mediante recompensa,
forjadores de flagrante, invasores de domicílio, praticantes de corrupção
passiva e extorsões, milicianos. Enfim, todo tipo de vantagem indevida que se aproveita
da sensação de justiça feita com as próprias mãos. Afinal, isso é mais fácil e
rentável que trabalhar provas em uma investigação e receber o salário de um
policial.
Neste contexto, percebe-se também que surge a
relativização de que uns crimes devem ser combatidos (os praticados pela
escória da sociedade) enquanto outros são uma mera consequência de um sistema
imperfeito que, por isso, devem ser relevados (os praticados por representantes
dos órgãos públicos). O irônico é que, não raro, estes aparecem em televisão,
campanhas, audiências públicas, e outros, para debaterem a criminalidade da
região e pensarem em alternativas para redução dos índices. Hipocrisia! Ao selecionarem
os crimes que repudiam ou participarem dos que ignoram, não emanam esforços
para a atuação sem segregação. Assim, colecionam ações sem valor moral para a
comunidade, pois não há honra em atender interesse de uns grupos ou explorar a
condição desfavorecida de outros. É dessa quebra de convenções éticas da
sociedade que brota a falta de respeito à autoridade policial, alimentando cada
vez mais a briga entre polícia e ladrão: represálias, ameaças, retaliações.
Portanto, a honra e valores éticos devem
estar intimamente ligados à aplicação da Lei para a verdadeira promoção de
Justiça. Apenas assim se alcançará a ordem, como um meio para a paz, e não como
objeto do medo. Entretanto, infelizmente, ser honesto e combativo na atividade
policial são dois atributos que às vezes parecem ser inversamente proporcional
no sistema de segurança pública.
Quer atuar como Justiceiro na vida real?
Busque esse equilíbrio e se aproximará de ser um.
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