Há exatamente um ano e sete meses faleceu o maior homem que conheci. Chamava-se Hércio Batista, mais
conhecido como Tilico. Para mim, apenas Papai.
Viveu cinquenta anos de batalha e alegria. No dia, houve homenagens, um
semblante de paz e sorriso, e muitos choros sinceros.
Foi pessoa e agora é alma
protetora. É a ele que me recorro quando fraquejo e isso me dar força para
reerguer, junto com a responsabilidade que ele me deixou de cuidar do que é
nosso, como lojas, família, sítio e nome.
Infelizmente, sua imagem vai
ficando para trás e eu vou me acostumando com as novas pessoas, novos tempos e,
aquilo tudo, cada vez mais se torna passado, se torna distante. Nesse sentido,
o tempo é cruel! Em contrapartida, é isso que alivia minha dor e me faz viver
tranquilo, pois é o sinal que estamos nos reaproximando a cada dia, fato que
será concretizado quando eu me for. Nesse sentido, o tempo é parceiro!
A relação com meu pai era
boa, cumprimentava-nos com “selinho” e tínhamos respeito mútuo. Ele, com sua
autoridade, soube me educar sem precisar falar muito ou bater. Falava com os
olhos! E eu, diga-se de passagem, nunca levantei a voz, mesmo nas vezes que o
achava errado. Tínhamos gênios parecidos e essa semelhança unida ao respeito
não nos deixava expressar nossos sentimentos. Logo, éramos um pouco distantes
por sermos iguais!
Ele foi uma pessoa tão
inspiradora e importante para mim que eu tinha orgulho das suas manias, expressões
e até defeitos. Sua rigorosidade e jeito pacato me pareciam ser uma das formas
de sustentar seu orgulho e, consequentemente, seu caráter, palavra e honradez.
Quando alguém morre, é moda
fazer tal pessoa virar “mártir”, por isso não ignoro seus defeitos, mas também
não me difiro daqueles que já passaram por isso e dizem “Como eu poderia ter
feito isso... Como poderia ter sido assim...”. Pois podemos ter feito tudo, que
sempre aparece algo que não fizemos. Descobri que isso é efeito da perda!
O sofrimento teve
consequências positivas também, como tudo na vida. Meu pai teve de ir para eu
me tornar uma pessoa melhor, me importar com os outros, entender as emoções e
saber o quanto é importante dizer “amo você” no dia dos pais, na ceia de natal
ou qualquer outro dia – como vinha fazendo nos últimos anos. Além disso, me
tornei “homem”, com responsabilidade e maturidade que a vida exigiu de mim, e
não negligenciei.
Por fim, não pensei que sua
morte machucaria tanto. Essa dor será amenizada quando eu tentar ser para
alguém o que ele foi para mim, por isso, espero pelo meu filho e olharei para
um através do outro. A fisionomia, jeito, ações e legado do grande Tilico
ficarão sempre conosco por meio da memória, do seu livro (que ainda será
publicado), dos patrimônios que construiu, do salão de festa que tomou seu nome
e, principalmente, das lembranças maravilhosas.