Após uma eleição extremamente disputada
e com acusações, ofensas e ataques distribuídos por ambas as partes sem
escrúpulos, parecemos viver o mesmo jogo político de sempre: oposição buscando
o que criticar e governo defendendo suas medidas, independentemente do que está
sendo criticado e defendido, respectivamente.
Até aqui tudo bem, esta é a Democracia. O
interessante, pelo que tenho percebido, é que no contexto atual a oposição
levanta a voz contra medidas as quais têm exatamente o perfil direitista que
seria implementado caso fosse eleita; e o governo toma decisões as quais
discordou duramente na campanha eleitoral, aceitando, finalmente, que algo
realmente estava destoante.
Os que votaram em Aécio continuam
insatisfeitos querendo promover Impeachment
e algumas reivindicações sem fundamentos sólidos, o que parece uma birra de criança quando
não ganha o doce. Estes deveriam estar contentes, pois muitas das medidas desse
novo governo são de cunho Psdbista. E os
que votaram em Dilma ainda a apoiam firmemente mesmo sabendo – ou não – que suas
ações são contrárias a muitas coisas que foram prometidas e, principalmente,
defendidas.
Creio que o personagem principal, promotor das
atitudes contrárias aos discursos convincentes das eleições, é o Ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, tendo como motivação o medo Petista de quase ter perdido
o confronto. Ele, e os trabalhos que lhe deram o famigerado apelido “mãos de
tesoura”, comprovam que o governo assumiu, pelo menos nas atitudes, que a forma
de governar estava frouxa demais.
No âmbito econômico, tínhamos como exemplo o
discurso de Aécio em prol da organização das contas públicas, baixa da
inflação, e potencialização da indústria; e o de Dilma no sentido de que a
inflação estava controlada, que a crise era internacional, e que haveria manutenção
dos incentivos econômicos individuais. Hoje, as medidas de Dilma são para
conter a inflação e as críticas da oposição são contra tais medidas, tão
defendidas – obscuramente, é claro – outrora. Pura contradição! Tudo para
ganhar apoio do povo em seus novos discursos firmes.
Vou citar algumas medidas impopulares do
governo que são paradoxalmente criticadas pela oposição: limites de vagas e
nota mínima para os estudantes conseguirem o FIES; aumento do tempo de carteira
assinada para a liberação do Seguro Desemprego; aumento da taxa de juros para
incentivo à compra de títulos públicos; desvalorização cambial; retomada do
interesse em negociações com os EUA no setor de Comércio; aumento de impostos,
como o IOF, para redução da demanda agregada. Ou seja, tentativas de moralização
do uso dos recursos públicos pela população e políticas econômicas
contracionistas, para diminuir o consumo e, a longo prazo, a inflação.
A Mídia, que adora criticar o PT, apenas
coloca que estudantes estão perdendo suas bolsas; trabalhadores podem ficar sem
recursos quando desempregados; e a alta do dólar diminui a indústria do
turismo. Mas não dizem que isso beneficia os que realmente querem estudar, os
que de fato usam o seguro desemprego como uma renda provisória, e os
empresários que exportam e, dessa forma, geram milhares de empregos.
Nós
sofremos com muitas medidas, principalmente no que diz respeito aos impostos, uma
vez que já são altos; mas, infelizmente, precisamos desse choque. A torneira
estava aberta demais, e a água começou a faltar (literalmente). A minha
reclamação é que o governo, mesmo com a atual postura, tem ainda preferido o
aumento da arrecadação em detrimento do corte de gastos. Porém, é visível que está
fazendo um pouco dos dois, embora não seja suficiente nem na intensidade
necessária, o que teria alto custo político e um impacto tremendo na população.
O que muitos não entendem é que o corte de custos diminui a necessidade de ter
dinheiro para suprí-los e, portanto, a conta da dinheirama desperdiçada que é
paga pelo povo fica menor.
Enfim, os altos gritos de Aécio no Congresso
Nacional soam heroicos, mas os informados e também os manipuladores direitistas
sabem que isso é proveito do fato de não ser ele o implementador das políticas
atuais. Já a Dilma continua ouvindo vaias porque deveria ter tomado posturas severas
antes, na visão dos informados; e sofrendo com o levante anti-PT pela falta de
carisma e, agora, para piorar, ações elitistas, na visão dos manipuladores
esquerdistas.