Em meio à multidão que
atualmente palpita sobre os acontecimentos que repercutem, não pude deixar de
expor uma ideia sobre a matança nos presídios. Porém, diferentemente da maioria,
e principalmente de colegas policiais, permito-me a relatar com outro teor.
Infelizmente, não consigo
encarar a carnificina como algo benéfico à sociedade ainda que uma quantidade
considerável de bandidos esteja conhecendo o inferno nesse momento. Mas penso primeiramente o quão sanguinários estão os agentes do crime.
E o Estado tem que tomar providência rápida, em âmbitos estruturantes e,
inclusive, "culturais". Esse é o principal recado!
Não me assusto quando civis
defendem “que eles se matem”, “espero que morram todos”, afinal, eles são
leigos e não têm a responsabilidade direta de zelar pelo Estado. Mas quando a
própria segurança pública apoia guerra civil, ela abre mão da força legal que
ela mesma resguarda, como autoridade do Estado. É um tiro no pé; é fragilizar a
polícia.
Engraçado que muitos que
defendem os massacres acham Fascista quando se propõe a pena de morte, ou pena perpétua
com trabalhos forçados, como uma alternativa de pena máxima no Brasil. Contudo,
ao surgir barbárie exercida entre criminosos, acham positivo. É a mesma vertente:
“justiça” sendo feita utilizando a morte como punição. Mas há duas diferenças.
Uma é que a praticada pelos criminosos são monstruosas e divulgadas, além de
objetivar a exposição de poder paramilitar, e não a promoção de justiça. Outra
é que o agente ativo desta ação não tem legitimidade para tal.
Um
exemplo claro do erro despercebido é comparar esses assassinatos com a atuação
do Estado no Carandiru. Nesta situação, busca-se criminalizar os policiais, que,
dentro do cumprimento do dever legal, fizeram a limpeza; e na dos presídios de
Manaus e Boa Vista, engradecem os criminosos, uma vez que, a meu ver, festejar
essas mortes é aplaudir quem mata.
De forma estatística, essas
matanças podem até reduzir o número de bandidos vivos, mas a força aplicada
pelo lado sombrio marca mais uma vez a histórica fraqueza do Estado brasileiro
em seu tempo democrático. E, novamente, temos a oportunidade de avançar em
parte de nossa cura, mas somos ignorantes demais para perceber!
Logo,
a alternativa não é legitimar o crime. Não é aumentar audiências de custódias
para evitar o encarceramento. Nem culpar a terceirizada que administra o
presídio, muito menos a condição social que os detentos foram submetidos. Isso
tudo é muito pequeno diante do que foi mostrado à sociedade. Eles estão
ascendendo, e vão quebrar o equilíbrio independente dessas medidas micro.
Na ausência do Estado, que Deus nos proteja.