Em um país com as
instituições policiais tão desvalorizadas, não tem como deixar de atribuir isso
a um histórico sujo de muitos que juraram defender a sociedade. A milícia é um
dos exemplos escabrosos de ações de policiais que, na verdade, são bandidos,
mas acabam queimando a imagem da polícia por praticarem seus crimes vestidos de
farda e abusando da sua função pública.
Esse termo se refere a uma
organização de pessoas armadas que se aproveitam da falta do Estado em certa
localidade para dominá-la, promovendo a segurança por meio do que os seus
integrantes chamam de justiça, e cobrando da população por isso. A violência é
o principal método para assumir o controle. O problema é que quase sempre essas
pessoas são os próprios representantes do Estado, isto é, a polícia, pois é
corrupta, mal remunerada e pouco treinada, além de contar com a falta de
fiscalização sobre suas ações, pois os interesses espúrios e politiqueiros de
quem a comanda acabam potencializando a impunidade.
Em tese, o que deveria ser
segurança pública, financiada pelos impostos do cidadão, se transforma em
organização criminosa que pratica corrupção passiva, extorsão, homicídio, e outros
crimes. Em troca, impede assaltos, dão apoio social (remédio, TV a cabo, internet,
iluminação pública grátis), benefícios que muitos que criticam condutas erradas
da polícia não se importam com a fonte ilícita a qual são gerados, desde que sejam
beneficiados pelo sistema. Além disso, pode até haver uma ilusão de melhora de
vida para aqueles que moram no lugar e trabalham fora, mas o esquema quebra a
economia local, pois os comerciantes trabalham para a subsistência e para
enriquecer os milicianos.
Outra questão é que
geralmente esses grupos são inimigos dos traficantes, pois, em comunidades
tomadas por estes, percebe-se que eles acabam sendo os milicianos. As
características são as mesmas: na falta do Estado, pessoas armadas tomam o
controle e fornecem suprimentos aos moradores, que passam a acobertá-los e
contribuir indiretamente com a criminalidade. E ai está o lado indignante dessa
“modalidade” de milícia: o apoio da população local. Não é incomum ver
moradores criticando a polícia quando há tiroteios em favelas, mesmo em se tratando
de uma guerra, com duas frentes. Os traficantes não são vistos pela lei como
tal porque se enquadram no crime que representa sua atividade principal, o
tráfico de drogas, e não são tão recriminados pela população porque são natural
dali e tiveram condições sociais degradantes, em que pese, para os moradores, as
condições de trabalho do policial não serem justificativa para ele se tornar um
miliciano.
Cabe dizer que milícia não
se confunde com grupo de extermínio, pois este consiste em mais de duas pessoas
se organizarem com a finalidade de cometer homicídios. Além disso, não exigem
vantagem econômica, pois se dizem justiceiros, apesar de, na verdade, serem sanguinários
que até matam gente inocente para se livrarem de testemunhas ou ferirem
emocionalmente os bandidos.
Enfim, mostrei um pouco o
conceito de milícia, mas a intenção principal foi apresentar essas vertentes
que me surgem quando analiso a questão. Não se deve esquecer que qualquer forma
de usurpação do poder do Estado por meio de organizações paramilitares é uma
afronta à sociedade como um todo, e não apenas aos envolvidos nos conflitos. Que
isso sirva para as pessoas que veladamente justificam o apoio dado pelos
traficantes aos moradores como uma forma aceitável de suprir a falta do Estado,
porque é apenas mais um tipo de compra de voto.
Leia também:
http://www.culturamix.com/cultura/curiosidades/as-milicias-no-brasil/
http://super.abril.com.br/comportamento/freixo-o-verdadeiro-fraga