27 de agosto de 2013

A Medicina e o Capital


Os médicos aproveitaram do momento do Brasil e inseriram na pauta das manifestações o seu interesse de manipular o “mercado” hospitalar, permitindo a continuidade da escassez de recursos humanos nessa área para ficarem com certo poder de barganha.
É triste ouvir informações sobre a dificuldade de encontrar médicos disponíveis para cidades pequenas do interior, em cargos de remuneração até de trinta mil reais. Pior ainda é saber que houve onze mil inscrições de médicos em programas de saúde do governo, visando mostrar que não há falta deles no Brasil, após a decisão do governo de importar esses profissionais. Mas foi tarde. E, em resposta, a ministra de relações institucionais pediu investigação da policia federal para possíveis sabotagens no processo de inserção de médicos estrangeiros no Brasil. Justo!
Na verdade, toda aquela reivindicação contra os médicos estrangeiros tem uma explicação óbvia: o aumento de competitividade, pois nem o governo nem as pessoas dependerão da disponibilidade de médicos brasileiros. Teremos mais alternativas. E competitividade exige melhoria. Entretanto, o comodismo e imperícia de muitos serão afetados com essa exigência. E isso não é bom para a classe, não é mesmo? Devemos entender que esses são os efeitos da globalização, e medidas parecidas foram tomadas em setores da economia, como abertura para o capital estrangeiro, por governantes que são apoiados por pessoas que criticam Dilma hoje. E não está errado, uma vez que esse cenário competitivo instiga a melhoria contínua.
Parece ser difícil entender por que as reivindicações por melhores condições de trabalho e maior investimento em saúde implicam na não inserção de médicos estrangeiros. Eles encontrarão o mesmo cenário. Além disso, clínicos críticos já disseram que tratamento básico, que é o mais exigido em pequenas cidades, não requer estrutura muito ampliada, mas apenas vontade de trabalhar.
Sinto muito tratar isso tudo como um negócio, embora realmente seja. Mas há uma grande diferença nesse tipo de negócio, e os médicos manifestantes parecem não entender. Concorrentes devem ser parceiros, pois o bem maior é a vida ou saúde do cliente. O reconhecimento pessoal deve vir da vitalidade do paciente, e não do valor embolsado. É o tipo de negócio que não pode haver fila; que a oferta tem que ser sempre maior que a demanda; que o estabelecimento deve estar sempre vazio; que a maior rentabilidade de um nível de serviço de 80% deve ser abdicada em função do elevado custo advindo do nível de serviço total.
É por isso tudo que a medicina é tão especial. Mas o que vejo é a negligência de muitos valores, a perda da filosofia do amor na profissão, segundo Henrique Prata, gestor do hospital de câncer de Barretos. Conheço jovens talentosos e inteligentes que vão logo se interessando pela faculdade de medicina, mas estão longe de entender a verdadeira essência dessa profissão. Os protestos seriam justos se clamassem por estrutura, equipamentos, condições; mas não contra “companheiros” de Cuba. Que eles sejam bem-vindos. O capitalismo está corroendo a medicina! Espero que tenham entendido a mensagem.