Os médicos aproveitaram do
momento do Brasil e inseriram na pauta das manifestações o seu interesse de
manipular o “mercado” hospitalar, permitindo a continuidade da escassez de
recursos humanos nessa área para ficarem com certo poder de barganha.
É triste ouvir informações
sobre a dificuldade de encontrar médicos disponíveis para cidades pequenas do
interior, em cargos de remuneração até de trinta mil reais. Pior ainda é saber
que houve onze mil inscrições de médicos em programas de saúde do governo,
visando mostrar que não há falta deles no Brasil, após a decisão do governo de
importar esses profissionais. Mas foi tarde. E, em resposta, a ministra de
relações institucionais pediu investigação da policia federal para possíveis
sabotagens no processo de inserção de médicos estrangeiros no Brasil. Justo!
Na verdade, toda aquela
reivindicação contra os médicos estrangeiros tem uma explicação óbvia: o
aumento de competitividade, pois nem o governo nem as pessoas dependerão da
disponibilidade de médicos brasileiros. Teremos mais alternativas. E
competitividade exige melhoria. Entretanto, o comodismo e imperícia de muitos
serão afetados com essa exigência. E isso não é bom para a classe, não é mesmo?
Devemos entender que esses são os efeitos da globalização, e medidas parecidas
foram tomadas em setores da economia, como abertura para o capital estrangeiro,
por governantes que são apoiados por pessoas que criticam Dilma hoje. E não
está errado, uma vez que esse cenário competitivo instiga a melhoria contínua.
Parece ser difícil entender
por que as reivindicações por melhores condições de trabalho e maior investimento
em saúde implicam na não inserção de médicos estrangeiros. Eles encontrarão o
mesmo cenário. Além disso, clínicos críticos já disseram que tratamento básico,
que é o mais exigido em pequenas cidades, não requer estrutura muito ampliada,
mas apenas vontade de trabalhar.
Sinto muito tratar isso tudo
como um negócio, embora realmente seja. Mas há uma grande diferença nesse tipo
de negócio, e os médicos manifestantes parecem não entender. Concorrentes devem
ser parceiros, pois o bem maior é a vida ou saúde do cliente. O reconhecimento
pessoal deve vir da vitalidade do paciente, e não do valor embolsado. É o tipo
de negócio que não pode haver fila; que a oferta tem que ser sempre maior que a
demanda; que o estabelecimento deve estar sempre vazio; que a maior
rentabilidade de um nível de serviço de 80% deve ser abdicada em função do
elevado custo advindo do nível de serviço total.
É por isso tudo que a
medicina é tão especial. Mas o que vejo é a negligência de muitos valores, a
perda da filosofia do amor na profissão, segundo Henrique Prata, gestor do
hospital de câncer de Barretos. Conheço jovens talentosos e inteligentes que
vão logo se interessando pela faculdade de medicina, mas estão longe de
entender a verdadeira essência dessa profissão. Os protestos seriam justos se
clamassem por estrutura, equipamentos, condições; mas não contra “companheiros”
de Cuba. Que eles sejam bem-vindos. O capitalismo está corroendo a medicina!
Espero que tenham entendido a mensagem.